Facção carioca TCP, rival do CV, tenta ampliar atuação no Ceará

Estado do Nordeste é estratégico para o tráfico de drogas; facção TCP é conhecida por usar o nome de Deus para controlar áreas do Rio.

Por Redação GCE . Em 15/01/2024 - 21:16h  |  Atualizado em:  15/01/2024 - 21:16h

Facção carioca TCP, rival do CV, tenta ampliar atuação no Ceará
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A guerra entre facções criminosas cariocas ganha novos contornos no Ceará, um estado considerado estratégico para o tráfico de drogas. O Terceiro Comando Puro (TCP), tradicional rival do Comando Vermelho (CV), tenta ampliar sua atuação na região nordestina, provocando uma série de confrontos violentos.

Intolerância religiosa e símbolos marcantes

O TCP, conhecido por sua intolerância a religiões de matriz africana e pelo uso do nome de Deus para controlar áreas no Rio de Janeiro, tem expandido sua presença no Ceará. O grupo, cujos líderes são evangélicos, utiliza símbolos como a bandeira de Israel, presente em convocações de criminosos no estado.

A presença do TCP é evidenciada em vídeos divulgados livremente no YouTube, nos quais crimes e armas são exibidos, além de pichações em muros, muitas delas encontradas em áreas que antes eram dominadas pela Guardiões do Estado (GDE).

Tentativa de chacina na Barra do Ceará

Recentemente, uma tentativa de chacina no bairro mais antigo de Fortaleza, Barra do Ceará, deixou duas pessoas mortas e outras 15 feridas. O advogado Claudio Justa, ex-presidente do Conselho Penitenciário e da Comissão de Segurança Pública da OAB/CE, destacou que essa ação evidencia a disputa acirrada entre TCP e CV no estado.

Possível dissidência no Comando Vermelho

Para Justa, a hipótese mais provável é que líderes do Comando Vermelho no Ceará se rebelaram, estabelecendo uma conexão com o grupo rival carioca. Essas lideranças dissidentes, de acordo com ele, assumem e cooptam jovens para realizar "retomadas de território" ou para tomar áreas de rivais.

Ceará: estado estratégico para o crime organizado

O Ceará, dada sua localização geográfica estratégica e acesso a rotas de tráfico internacional, é alvo de disputas constantes entre facções criminosas. A redução da violência na capital em 2023 contrasta com o aumento no interior do estado, refletindo a intensificação da competição pelo controle territorial.

Pichações em muros do município de Ibicuitinga indicam a chegada do TCP ao Sertão Central do Ceará.

Outras facções e enfraquecimento da GDE

Além das facções cariocas, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e um novo grupo local chamado Massa também atuam no Ceará. O surgimento do TCP coincide com o enfraquecimento da Guardiões do Estado (GDE), permitindo ao TCP cooptar jovens em Fortaleza e outras cidades.

Paz não pactuada e foco na conquista de territórios

Apesar de não haver confronto direto entre a GDE e o TCP no momento, Claudio Justa ressalta que não há uma união entre as duas facções. O TCP, segundo ele, está concentrado na conquista dos territórios do Comando Vermelho, resultando em uma "paz não pactuada".

Convite a criminosos via WhatsApp

Uma mensagem recentemente distribuída no WhatsApp e atribuída à liderança do TCP convida criminosos do Ceará, alegando "cansaço da opressão das facções predominantes no estado" e destacando a busca por "união e liberdade".

A situação delicada no Ceará reflete não apenas uma intensificação na disputa entre facções, mas também revela as complexas dinâmicas do crime organizado na região, trazendo desafios significativos para as autoridades de segurança pública.

Por outro lado, apesar de o Governo do Ceará estar implementando iniciativas para lidar com o aumento da criminalidade, essas ações têm se mostrado insuficientes. 

O reduzido contingente de policiais civis e militares, juntamente com o fim do regime de plantão em algumas delegacias do interior, podem estar contribuído para a escalada da violência, inclusive nas regiões mais remotas do estado.