Vendedor ambulante tira certidão de nascimento pela primeira vez aos 65 anos e reencontra família no Ceará

Fortaleza, Ceará - Em um emocionante desdobramento, Francisco Teixeira dos Santos, um trabalhador autônomo de 65 anos, natural de Canindé, no interior do Ceará, finalmente teve seu nome registrado em um documento oficial. A inédita certidão de nascimento foi concedida em maio de 2023, graças ao apoio oferecido pelo serviço social do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), onde Francisco passou meses internado para tratar de problemas renais e respiratórios.

A história de Francisco é marcada por desafios e reviravoltas. Há mais de duas décadas, ele deixou sua cidade natal em busca de novas oportunidades na capital cearense, Fortaleza. Sem ter para onde ir, encontrou acolhimento em uma mulher que trabalhava vendendo lanches. Os dois logo se tornaram vendedores ambulantes e construíram uma forte amizade que se estendeu para toda a família dela.

Contudo, o tempo e a luta contra o alcoolismo acabaram por afastar Francisco de seus laços familiares em Canindé, privando-o de qualquer registro oficial durante toda a sua vida. Sem identidade ou certidão de nascimento, ele jamais teve acesso a benefícios sociais ou foi cadastrado em programas de assistência, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

O caminho para a regularização de sua situação começou em novembro de 2022, quando Francisco deu entrada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com uma grave pneumonia. Na ocasião, ele forneceu informações imprecisas sobre seu nome e data de nascimento, complicando ainda mais o processo de busca por seus registros.

Foi no Hospital Estadual Leonardo Da Vinci que a equipe de assistência social decidiu realizar uma busca ativa pelos dados de Francisco. Eles tentaram encontrar registros na Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), mas sem sucesso. Da mesma forma, os cartórios de Canindé também não possuíam informações sobre o nascimento de Francisco, em virtude do tempo decorrido e da deterioração dos registros antigos.

Apesar das dificuldades, a dedicação da assistente social Arisângela Girão levou à descoberta de parentes vivos de Francisco em Canindé. Sobrinhos do vendedor ambulante, filhos de sua única irmã já falecida, foram encontrados e proporcionaram um emocionante reencontro familiar. Os parentes de Fortaleza, que acolheram Francisco como um membro da família, demonstraram interesse em manter os laços e visitar o homem frequentemente.

Foto: Divulgação/Helv

O reencontro com os sobrinhos permitiu confirmar o nome da mãe de Francisco e alguns dados, embora a data exata de nascimento ainda permaneça incerta. Em um esforço conjunto, o grupo definiu uma data aproximada após uma pesquisa minuciosa, permitindo que Francisco pudesse escolher o dia em que seria oficialmente reconhecido como nascido.

Após receber a tão aguardada certidão de nascimento em maio, Francisco deu mais um passo em direção à regularização de sua situação, obtendo sua carteira de identidade em junho. O ambulante agora busca a obtenção de outros documentos essenciais, como CPF e certificado de reservista, para ter acesso a benefícios sociais, incluindo o Benefício de Prestação Continuada (BPC), garantindo assim a continuidade de seu tratamento de hemodiálise.

A história de Francisco Teixeira dos Santos é uma jornada de superação e resiliência. Apesar das adversidades, ele finalmente conquistou o reconhecimento de sua existência através da documentação oficial. Seu exemplo ressalta a importância do trabalho incansável das equipes de assistência social, que se dedicam a restaurar a dignidade daqueles que, por muito tempo, viveram à margem da sociedade, sem direitos e identidade.

O futuro de Francisco agora é promissor, com o apoio de duas famílias que o acolhem com amor e a perspectiva de uma vida mais digna e assistida. Sua história nos inspira a refletir sobre a importância de garantir a todos os cidadãos o acesso a seus direitos fundamentais desde o momento de seu nascimento.